REPRESENTAÇÃO EM SCHOPENHAUER Uma abordagem em Filosofia Clínica .

O mundo é minha representação. – esta proposição é uma verdade para todo o ser vivo e pensante, embora só no homem chegue a transformar-se em conhecimento abstrato e refletido.”(...)Possui a inteira certeza de não conhecer nem um sol nem uma terra, mas apenas olhos que vêem este sol, mãos que tocam esta terra; numa palavra, ele sabe que o mundo que o cerca existe apenas como representação, na sua relação com um ser que percebe, que é o próprio homem. 


O presente trabalho pretende refletir a noção de representação, tal como se apresenta na teoria do conhecimento do Filósofo alemão Arthur Schopenhauer, bem como sua importância na clínica filosófica. Nossa proposta é demonstrar que a representação entendida como conteúdos concretos captados pelos sentidos podem não apenas auxiliar os indivíduos a compreender o mundo (ao modo de uma teoria do conhecimento), como fez nosso pensador, mas pode auxiliar ao Filósofo Clínico em seu trabalho, na medida em que a representação pode torna-se condição singular ao promover modos, precisamente, individuais de percepção do mundo.


1 - INTRODUÇÃOA noção de representação, antes mesmo de ser identificada com a idéia de “ser imagem de”, “parecer”, “aparentar”, ou até mesmo “semelhança”, conforme S. Tomaz, para quem representar significaria conter a semelhança da coisa” em Filosofia sempre teve uma relação estreita com o conhecimento, nesse sentido, o termo “representação” serviu de referencia para o desenvolvimento de muitas teorias relacionada ao conhecimento. Com isso muitas definições surgiram, entre elas aquela designando-a o meio e a condição sem a qual o conhecimento seria impossível; nesse sentido o conhecimento seria representativo, e representar significaria ser aquilo com que se conheceria as coisas e, portanto, suas determinações. 

Partindo deste pressuposto, a representação se impõe como condição e qualidade do conhecimento, sendo todas as realidades com as quais nos deparamos, figurações. Assim podemos deduzir daí que, por um lado, o sustentáculo das representações é a realidade das coisas, dos objetos, que alcança o sujeito através dos sentidos, e por outro, o sujeito é capaz de captar e perceber múltiplas realidades, diferenciando-as a partir de uma consciência. É a partir dessa consciência que representa, por exemplo, que o indivíduo percebe-se como um “eu”, capaz de reconhecer-se perante tais multiplicidades e emitir juízos sobre elas. 
A representação estreita a relação entre a consciência e a realidade concreta das coisas. O que estava fora, agora faz parte de mim, da minha realidade, afetando-me, mas não é só isso. Através da representação o sujeito não só se apropria de realidades fenomênicas, como coisas ou objetos, mas também, de conceitos e idéias que, por elas, são afetados igualmente. Como e de que forma estas realidades representadas nos afetam? Se isso é possível, podemos ainda continuar questionando: qual a natureza dessa afetação? Afetam os indivíduos igualmente? Como podemos compreender a representação no contexto da terapia em Filosofia Clínica?

2 – A REPRESENTAÇÃOA primeira necessidade que Schopenhauer aponta para compreendermos a noção de representação justifica-se em entender a reciprocidade existente entre sujeito e objeto no conhecimento de si mesmo e do mundo. De acordo com sua teoria do conhecimento, não existe somente um sujeito que antecede o conhecer do objeto, nem tão pouco um objeto que se faz reconhecer pelo sujeito. Há na verdade uma co-relação entre sujeito e objeto na consciência que, por sua vez torna-se consciência representativa do mundo. Embora demarque a necessidade recíproca, a representação vincula-se à experiência sem a qual o conhecimento torna-se inviável. Schopenhauer afirma que o sujeito da representação refere-se aquele que tudo conhece e que não pode ser conhecido, ou seja, é o sustentáculo do mundo. Tudo que existe, existe em função do sujeito. O mundo como representação, como assim o define, é o mundo como tal, como o vemos, sem muitas dificuldades. Em contrapartida, o objeto da representação, se refere a tudo que pode ser conhecido pelo sujeito. É o mundo como nos aparece nas suas mais variadas cores, tamanhos e formas, condicionado pelas formas a priori da sensibilidade, tempo, espaço e causalidade que nos leva a questionar o porquê de tudo, de todos os efeitos, de todas as conseqüências. 
A representação é o resultado duma unidade básica, entre o sujeito e objeto em direção ao mundo. É através desta relação que o mundo existe e se faz existir. É representação, na medida em que, “tudo o que existe, existe para o pensamento, isto é, o universo inteiro apenas é objeto em relação ao sujeito.” O indivíduo torna-se unicamente sua referência. O que ele quer dizer é que nada é capaz de oferecer tais referências a não ser, seu próprio “Eu”. Daí resulta que o que os indivíduos experimentam das coisas não são as coisas, elas mesmas, mas “um conjunto de sensações provindas dos sentidos.” É nesse conjunto de sensações processadas pelo cérebro (razão) que a representatividade do mundo se constitui e o conhecimento acontece a partir do entendimento. Ou seja, primeiramente o sujeito é percepção, por que ele é afetado condicionado pelos sentidos e, posteriormente, consciência cognitiva, porque pensa a matéria provinda dos sentidos. Para isso Schopenhauer retoma os argumentos da Estética Transcendental kantiana:

Schopenhauer reteve de Kant apenas a ‘ Estética transcendental’ da Crítica da razão pura, com a distinção essencial entre ‘fenômeno’ e ‘coisa-em-si’. Esta distinção, para a filosofia transcendental kantiana, constitui a base da doutrina schopenhaueriana. 


O mundo é, portanto uma representação do sujeito, ordenado pelas intuições espaço- temporais que, através da causalidade o intelecto organiza os dados provindo da experiência estabelecendo os nexos causais necessários, sistematizando-os. Enquanto representação, o mundo é fenômeno, aparência, realidade na qual alicerça-se o conhecimento propriamente dito, a saber, as ciências empiricas. Daí resulta a desconfiança desse tipo de conhecimento instalando-se a relatividade. Por isso, segundo sua teoria tal conhecimento não pode ser tomado em absoluto, ou seja, como conhecimento verdadeiro, pela simples razão de lidarmos apenas com representações – fenômenos - e nunca com a realidade das coisas em si mesma. Tenho representações de cadeira, mesa, ou qualquer outro objeto, mas jamais terei compreensão absoluta e essencial da cadeira. Talvez o que aproximará o sujeito da “verdade” em relação à cadeira que vê, será sua Idéia. Aqui schopenhauer retoma Platão, para justificar parte de sua teoria do conhecimento. Aí reside portanto os limites do conhecimento. Não podemos ir além desse conhecimento cujo alicerces estão no princípios de razão suficiente destacados acima. Mas, segundo Schopenhauer, embora nosso conhecimento esteja limitado por tais princípios, existem realidades metafísicas que podem ser “conhecidas”, vislumbradas mas que estão alem dos limites da razão. Com essa argumentação Schopenhauer pressupõe a existência de uma outra realidade que constitui a essência do nosso ser e, conseqüentemente do mundo. Se de um lado temos o mundo como representação, da aparência, dos fenômenos, do outro temos o noumeno, a essência do mundo, posteriormente entendida e denominada Vontade. Na verdade, Schopenhauer salienta que o termo Vontade designa uma força “Grundlos” que se manifesta de diversas formas na natureza, obedecendo aos graus de objetivação . Mas a forma de objetivação da Vontade tende para a “individuação”. Da matéria inorgânica, grau mais baixo, que aparece como “um impulso cego, como um esforço misterioso e surdo afastado de toda a consciência imediata” , passa-se ao mundo orgânico com toda sua força e movimentos reguladas por aquilo que nosso Filósofo denomina de “excitação”. Compreende os vegetais e toda forma de vermes que, movidos por estímulos externos, procuram manter-se vivos. 
Já os animais, de um modo geral, encontram-se num grau superior em relação aos vegetais. Contudo, nos animais, podemos encontrar ainda sinais da excitação, na medida em que nestes podemos constatar o ímpeto de reproduzir-se e auto preservar-se. Mas o que de fato os põe em atividade é a “motivação”. Esta se caracteriza pela reprodução, pela mobilização.
A Vontade “é una não sendo possível dividir-se entre seus fenômenos; existe inteira em cada um deles” . Todo o mundo e tudo que nele existe está tomado, repleto por esta força que, embora pareça contraditória à multiplicidade, a diversidade das coisas (mundo como representação), não suprime o caráter de unicidade.
A radicalidade de tal conhecimento reside no fato de que o sujeito não reconhece o noumeno como o faz em relação à multiplicidade dos objetos, mas através do corpo é intuída. O ponto de partida para tal conhecimento modifica-se, mantendo-se a mesma referência, a saber, o sujeito. A Vontade é, portanto, reconhecida por Schopenhauer como a essência do corpo e, é através do mesmo que o enigma do mundo é revelado. Enquanto no conhecimento do mundo empírico o sujeito conhece apenas representações cujo olhar volta-se para o exterior, no conhecimento do mundo como Vontade tal olhar volta-se para o corpo, numa palavra para o interior. Este é um passo relevante no processo do conhecimento do mundo e de sua natureza íntima. A intencionalidade da consciência volta-se para idéia de indivíduo tão importante para entendermos a natureza da representação. Contrapondo a noção de vontade à de representação. Assim escreve:

O sujeito do conhecimento, pela sua identidade com o corpo, torna-se um indivíduo; desde aí é-lhe dado de duas maneiras completamente diferentes: por um lado, como representação no conhecimento fenomenal, (...); e por outro lado, ao mesmo tempo, como esse princípio imediatamente conhecido por cada um, que a palavra Vontade designa 

A noção de indivíduo é tão importante quanto a de corpo para o conhecimento do mundo como vontade. O sujeito do conhecimento pela sua identidade com o seu corpo torna-se indivíduo – não dividido, “In-dividuum” . O corpo é condição do conhecimento da minha vontade e é esta vontade que liga o sujeito ao corpo que, enquanto um ser capaz de refletir, reconhece-se como sujeito, situado no mundo como indivíduo (e não somente como objeto entre outros objetos). Este conhecimento não é um conhecimento provindo da razão, mas sim de um conhecimento intuitivo. E esta intuição leva-me a considerar que algo ultrapassa mediatamente toda experiência possível lançando-me ao imediatamente dado.

a) O Sujeito enquanto Indivíduo
Para Schopenhauer, é enquanto indivíduo que o sujeito não só conhece o mundo e seus infinitos objetos e atributos, mas se reconhece como um ser que faz, necessariamente, parte deste mundo, ou seja, tem sua raiz no mundo, e a ele deve sua existência. O conceito de individualidade amplia enormemente a definição de sujeito. A individualidade diz respeito a presença de certos caracteres específicos que, apresentando ligeiro vestígio nos animais, atinge completude na personalidade humana. “A individualidade está longe de atingir um grau tão elevado nos animais; eles apenas têm um ligeiro vestígio dela, mas o que domina absolutamente neles é o caráter de raça.” Basta descer a escala animal para certificar o desaparecimento de qualquer vestígio de individualidade, basta se ter noções psicológicas da família ou espécie de animais para se saber exatamente o tipo de comportamento esperado por aquele exemplar de determinada espécie em certas condições.
É no homem, grau mais alto da objetivação – representação - da Vontade, que se vê a individualidade produzir-se tão perfeita caracterizando-o como um ser de personalidade tão complexa, que varia de pessoa para pessoa.
Na espécie humana (...) cada indivíduo requer ser estudado e aprofundado por si mesmo, o que é da maior dificuldade quando se quer determinar antecipadamente a conduta desse indivíduo, visto que, com o auxílio da razão, ele pode fingir um caráter que não tem. Verossimilmente, devemos atribuir a diferença da espécie humana em relação às outras(...). Mas existe um outro fenômeno que mostra melhor esta individualidade de caráter, que assinala uma diferença tão profunda entre o homem e os animais: é que, nestes, o instinto sexual satisfaz-se sem nenhuma escolha prévia, enquanto que esta escolha no homem, - embora independente da reflexão e completamente instintiva, - é levada tão longe que ela degenera numa paixão violenta. 

Nos animais e nas plantas, a objetivação da Vontade só pode ser tomada no seu conjunto obedecendo a escala dos graus a que pertencem, o que não ocorre, segundo Schopenhauer, com o homem. Não é preciso considerar sua espécie para considerá-lo uma objetivação adequada da Vontade, pois cada um, tomado unicamente, constitui já a objetivação da mesma. 


b) Implicações clínicas
Podemos constatar aí que a individualidade consiste em uma dimensão ontológica do ser. Mas como podemos compreender esta individualidade no contexto da representação, e conseqüentemente na Clínica Filosófica? É importante notar que nem sempre uma ontologia do ser aos moldes universais é aceita na clínica. Nossa proposta não é compreender os indivíduos, mas aquele indivíduo, aquele que nos procura, que nos solicita. Único, indiviso, compreendê-lo nesta dimensão, este é o nosso desafio. Ora, conceitualmente, a individualidade demarcada por Schopenhauer satisfaz plenamente a necessidade metodológica no processo clínico, a saber: “cada indivíduo requer ser estudado e aprofundado por si mesmo”,. A individualidade é o caráter especial que cada pessoa possui diferenciando-se das demais. A pessoa humana é considerada a partir de suas características particulares, tanto físicas – o corpo – quanto suas manifestações subjetivas. Na individualidade buscaremos o modo de ser do indivíduo. Como este indivíduo se comporta mediante os fenômenos de sua consciência? Que representação possui do mundo que o cerca? Que certeza carrega consigo para assumir esta ou aquela postura? A partir da escuta da história de vida de seu partilhante, o Filósofo procura compreender e identificar na malha intelectiva do indivíduo, os pontos conflitantes que podem causar desconfortos, e em alguns casos ser até profilático. Esse trabalho é feito a partir de um exame cuidadoso através dos Exames Categoriais e posterior montagem da Estrutura de Pensamento. É importante ressaltar que nem sempre teremos conhecimento da natureza de determinadas representações. Por isso em clínica nem sempre buscar a causa pode significar a satisfação de resultados. 
Podemos constatar que embora a representação não nos revele o conhecimento em absoluto das coisas segundo Schopenhauer, ainda assim a representação constitui, em clínica, o acesso legítimo a alguns dos inúmeros aspectos da personalidade humana. Basta pensar que muitas manifestações de alegria, tristeza, angústia, satisfação, frustrações, decepções, enfim, poderão estar alicerçadas em representações conceituais e/ou imaginativas cujas origens podem extrapolar os limites impostos pela realidade empírica. Isso porque a representação não é apenas de objetos ou coisas. Os conceitos, por exemplo, podem ser representações assim como o conteúdo da imaginação e do pensamento respectivamente. Assim sendo tais realidades fenomenológicas perpassa toda malha intelectiva do individuo através dos tópicos que a estruturam. O filosofo, através da autogenia, pode identificar conflitos de diversas naturezas que envolvem: papeis existenciais, expressividades, prejuízos, emoções, sentimentos, valores axiológicos, epistemológicos etc. Outro aspecto a ser considerado aqui é a comunicação. As pessoas utilizam-se de inúmeras formas pra se comunicar. Falar deste ou daquele sentimento ou situação pode ser tão difícil quanto uma criança ao balbuciar as primeiras palavras. Quero dizer que a comunicação é extremamente complexa e nem sempre acontece plenamente, nem sempre há um entendimento mútuo. Aqui reside um dos principais aspectos a ser notado no processo terapêutico: a qualidade da Interseção – Filósofo Clínico e Partilhante. É através desta qualidade que se definirá toda atividade em Filosofia Clinica. Tal qualidade determina-se pela positividade, negatividade, indefinição ou confusão da relação entre ambos. O fato é que não podemos negar que existem interferências de toda ordem que podem prejudicar o entendimento entre os interlocutores. Pode apenas referir a uma palavra que não foi bem pronunciada e/ou escutada, mas também pode extrapolar as instancias culturais. Por isso em clínica a atenção à escuta deve ser recoberta de cuidados. Deixar que o indivíduo manifeste suas representações plenamente sem qualquer interferência é o desafio. Toda história em clínica vai além de uma recordação. Trata-se de um vivido rico em significações por isso o termos historicidade e não história. Estas experiências asseguram de certo modo as certezas, convicções, dúvidas, que perpassam a história de cada indivíduo. Por isso cada indivíduo, a partir de suas experiências e vivências é único, assim como única será sua visão de mundo e, por conseguinte, suas representações. As associações tópicas neste contexto vão ao infinito. Por mais que diferentes indivíduos vivenciem realidades semelhantes, ainda assim, a compreensão sobre o vivido será diferente para cada um, pois o impacto e a significação dada por cada um será o resultado de um processo muito mais longo e anterior qualquer experiência imediata. 
Segundo o próprio Schopenhauer, graças à razão, associadas às outras representações intuitivas os homens são capazes de se transportarem do presente ao passado e do passado ao futuro. São capazes de guardarem na memória através de conceitos aquilo que foi vivido e mais uma vez ser recordado. Podemos afirmar ainda que, o que o indivíduo pensa à cerca do que virá trás conseqüências também imediatas sobre o que pensa ou sente no momento presente ou até mesmo alterar suas impressões sobre o futuro, podendo ou não lhe trazer desconfortos estruturais. 
De fato, podemos concordar com schopenhauer quando afirma que não conhecemos o sol ou a terra, mas olhos que apenas vem aquele sol, e mãos que tocam a terra, ou seja, respectivas representações. Mas podemos ir adiante entendendo que existe um jogo imbricado de significações em torno de tais afirmações. Em clínica, não se trata de reduzir uma afirmação como esta, a uma complexa atividade fisiológica do cérebro onde finalmente teremos uma imagem. Em torno desta imagem ou figurações, gravitam multiplicidades de significações, impressões que estão além de uma mera imagem na memória. O sol, por exemplo, pode significar praia, divertimento, alegria, para alguns, para outros pode ser sinônimo de desgraça, destruição, seca. Em clínica é de extrema importância atentar para esta dimensão da representação, tendo sempre como referencial as inúmeras variações e associações típicas. 

3- CONCLUSÃOAo Filósofo interessa conhecer o indivíduo em questão a partir daquilo que é apresentado, a história de vida do partilhante, matéria prima de todo trabalho. Cercado pelos limites imposto pela clínica, o conceito de indivíduo bem como o de representação aqui é tão importante quanto proposto pela filosofia schopenhaueriana. Para o Filósofo Clínico compreender a individualidade de seu partilhante, nada mais é do que se apropriar de parte de uma realidade cuja natureza será sempre limitada pelas circunstâncias. Mas isso não furta a possibilidade de, a partir de meios adequados, voltarmos a esta realidade e possibilitar ao indivíduo, desde que este permita, outros caminhos visando novas possibilidades de acomodações estruturais, tendo em vista um possível bem-estar.
Partindo da noção de representação aqui apresentado, compreendemos também que a idéia de mundo, também por analogia, pode ser entendido como o mundo de nossas certezas e objeções construídas ao logo da existência. A representação não é só condição para o conhecimento, não apenas se caracteriza como um modo de conhecer através dos sentidos. Somos afetados também pelas representações. Não que isso seja a regra, mas talvez as motivações mais profundas de carinho, de convicção, de escolhas etc., podem ser alicerçadas em representações conceituais, ideais ou imaginativas, possibilitando inúmeras relações tópicas, muitos caminhos existenciais.
Não raramente, na historicidade , o Filósofo constatará que muito do que fora dito ou expressado por seu partilhante, não passará de concepções cujas origens nem sempre terão raízes na experiência concreta – sensorial - do narrador, como ocorre, por exemplo, nos relatos onde Idéias Complexas estão fortemente presentes. Independente dos equívocos, da má estruturação do raciocínio ou de um discurso incompleto, tais representações adquirem autonomia e por isso merece todo respeito e atenção. Dizer que são autônomas significa afirmar que as representações mentais se tornam extremamente pessoais, que envolverá não só padrões convencionais instituídos por comunidades as quais pertencem, mas serão extremamente subjetiva que envolvendo emoções, sensações, sentimentos, valores axiológicos e epistemológicos etc. numa palavra, personalidade, entendendo-a como um modo relativamente constante e multideterminante do ser no mundo. Como Isso queremos dizer que o “Eu”, interage de tal modo com estas representações que totalizará uma visão ou maneira extremamente única de perceber o mundo.
Por isso, nos diversos endereços existenciais fica impossível ao Filósofo determinar um padrão adequado de existência. Aliás, tarefa que não constitui em princípio, seu papel em clínica. Cabe entender que o indivíduo é resultado de um longo processo daquilo que absorveu do mundo e do qual circunstancial faz parte. De tudo isso resulta suas vivências. A partir dos fatos relatados no histórico, e principalmente dos vínculos que o indivíduo estabelece a partir deles com outras realidades, poderemos verificar e avaliar o nível de interseção que este estabelece com a realidade fenomênica e a partir desta traçar um perfil, que longe de constatar apenas patologias ou desvios comportamentais, estará para ser mais uma oportunidade de suspender qualquer juízo e entender que cada realidade é processada de forma única, e que cada indivíduo deverá ser respeitado por esta individualidade.
A historicidade será sempre uma realidade fenomênica tão concreta quanto qualquer outra que possamos constatar através dos sentidos. Essas manifestações fenomenológicas serão sempre únicas, e não deveremos compreender de outro modo. A representação da realidade, de fato, repousa na capacidade de cada pessoa possui de atribuir valores e significados, construir símbolos a partir deles influenciar toda uma geração, e contrariando toda tradição filosófica, isso é o mesmo que construir uma concepção ontológica individual do ser. Se o mundo é apenas minha representação, não deixaremos de ser, por isso, Filósofos dispostos a desbravar e alcançar sempre os limites da natureza e do entendimento humano.

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